sábado, 23 de maio de 2015

Memórias de Araruna: Recordando Maria Celeste Torres


MARIA CELESTE TORRES DA SILVA
Uma das personalidades mais lembradas pelo povo de Araruna e região, é a da senhora Maria Celeste Torres da Silva, conhecida popularmente como Dona Celeste, pessoa simples, carismática, e sobretudo solidária, que deixou sua marca nos quatro cantos do município.

Nascida aos 10 de outubro de 1921, sendo natural de Araruna - PB,  filha do senhor João Alves Torres, oficial de justiça da comarca de Araruna, e da senhora Maria Tecla da Silva, dona de casa. Foi criada em um lar simples ao lado dos irmãos José Torres, Maria do Carmo, Maria das Neves, Iraci e Ceci, tendo convivido por muitos anos no sítio Trapiá do Jiraú, neste município, e posteriormente indo morar na "rua", tendo junto com seu esposo, Francisco Januário da Silva, administrado um comércio no ramo de panificação, que funcionava na Avenida  Antonio Carneiro por longas décadas.

Dona Celeste, sempre teve como característica marcante em sua vida a solidariedade, uma sensibilidade muito forte com as causas dos mais humildes e necessitados, qualidade esta, que pode ter sido motivadora para iniciar sua carreira política, mesmo após ter perdido seu esposo muito jovem, no ano de 1963, não esmoreceu, criou os filhos, José Torres, Eduardo, Luis, Antonio, Rosineide, e os de criação Maria de Fátima e Liliane, e seguiu sua vida de dona de casa, comerciante e mãe zelosa, como uma pessoa simples e discreta, até adentrar na política.

Prefeita Maria Celeste Torres, representando Araruna, em reunião de prefeitos na década de 1980. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva.
Militante fiel do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), partido liderado pelo ex-prefeito, e chefe político na região no curimataú, Benjamim Gomes Maranhão (Seu Beija), recebeu  um convite de se candidatar a vice-prefeita, feito pela filha do mesmo, à jovem Wilma Targino Maranhão, que seria candidata a prefeita pelo partido nas eleições municipais de 1976, uma tarefa difícil, pois o grupo do antigo partido ARENA (Aliança Renovadora Nacional), comandava os destinos de Araruna, a cerca de duas décadas, inclusive no pleito de 1972, o filho de Celeste, Luis Januário Torres da Silva, candidato do MDB, havia sido derrotado por Mentor Carneiro da Fonseca na disputa pela prefeitura.

Celeste aceitou o convite, para manter acesa a chama do MDB ararunense, junto com Wilma, encabeçando a chapa, o partido precisava se restabelecer no município, já que seu líder maior Benjamim Maranhão, estava militando no recém criado município de Cacimba de Dentro. Assim, foram Wilma e Celeste, para a disputa, contra adversários muito fortes e conhecidos do eleitorado local, além de comandarem por cerca de 20 anos a prefeitura, eram os senhores Agenor Targino candidato á prefeito, tendo José Adalberto Targino como seu vice, pelo partido ARENA 1, e Antonio Martins de Sousa, candidato á prefeito, que teve como vice José Torres da Silva, pelo ARENA 2.

Prefeita Celeste Torres, e seu filho Antonio Januário, no centro administrativo Benjamim Gomes Maranhão, sede da prefeitura de Araruna em março de 1985. Foto: Ana Maria Queiroga da Silva
É imperioso destacar, que a simples candidatura de duas mulheres em um cargo de destaque, na década de 70 do século XX, era por si só uma grande demonstração de coragem, e quebramento de estigmas sociais, pois a cultura do patriarcado sempre esteve muito presente na região Nordeste. Mais que isso, a dupla de mulheres conseguiu a façanha de se eleger, contra grupos políticos muito tradicionais e poderosos. Em muito pelo apoio de Beja Maranhão, do eleitor fiel do MDB, mais sobretudo por não terem desistido da eleição, persistido. 

O resultado eleitoral foi o seguinte:
  • MDB: Wilma Targino Maranhão, prefeita; Maria Celeste Torres da Silva, vice prefeita,   3.035 votos, 51,40% dos votos. ELEITAS.
  • ARENA 1: Agenor Targino, prefeito; José Adalberto Targino de Araújo, vice prefeito, 1.875 votos, 31,75% dos votos. Não eleitos.
  • ARENA 2: Antonio Martins de Sousa, prefeito; José Torres da Silva, vice prefeito, 995 votos, 16, 85% dos votos. Não Eleitos.
As duas mulheres haviam então, conseguido derrotar os quatro homens. Wilma Maranhão, assume como prefeita, tendo Celeste Torres sua vice, com mandato de 1977 á 1982, gestão que até hoje rende críticas positivas á administração, pela maneira em que foi realizado o mandato, sendo oposição ao governo estadual e federal, contando apenas com recursos próprios. 

Em 1982, a própria então vice prefeita, Dona Celeste, acabou se tornando a candidata natural do partido, agora PMDB, por seu carisma partidário e perante a população, acabou sendo eleita, para um mandato de 6 anos, derrotando o candidato do PDS (Partido Democrático Social), Antonio Fialho Moreira.
  • PMDB: Maria Celeste Torres da Silva, prefeita; Paulo Odon de Macedo, vice prefeito, 3.423, 51,29% dos votos. Eleitos.
  • PDS: Antonio Fialho Moreira; prefeito; Antonio Martins de Sousa, vice prefeito, 3.193 votos, 47,84%. Não eleitos.
Foi sobretudo em seu mandato como prefeita, que Dona Celeste conseguiu ampliar seu carisma perante a população, pois como pessoa de modos simples, sem muito estudo, entendia a linguagem popular, e agia combatendo os principais problemas da população mais carente.

Posse da Prefeita Eleita Maria Celeste Torres da Silva, presentes Wilma Targino Maranhão, sua filha Olenka, Sebastião Anterio, Antonio Januário Torres da Silva, Paulo Odon de Macedo, vice prefeito. Fotografia de 1983. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva.

Dentre as ações da Administração da prefeita Maria Celeste Torres, destacamos as seguintes:
  1. Preocupação com o pagamento da carteira dos funcionários municipais perante o INSS;
  2. Reforma e ampliação do Grupo Escolar João Moreira Soares;
  3. Construção da Escola Municipal João Alves Torres;
  4. Construção do Grupo Escolar, e inicio de construção de Posto de Saúde em Mata Velha;
  5. Construção de Posto Telefônico de Mata Velha;
  6. Construção da Creche Maria Tecla da Silva;
  7. Construção de Creche em Carnaúba;
  8. Construção de Grupo Escolar no Sitio Camucá;
  9. Construção do Grupo Escolar Monsenhor Cavalcante de Miranda; 
  10. Abertura da Avenida Semeão Leal, no encontro com a rua Bulhões de Carvalho;
  11. Alargamento da rua João Pessoa na popular " Rua da Palha", assim como calçamento de todas as ruas inerentes a este espaço;
  12. Construção do Centro de Convivência dos idosos, em proximidade ao cemitério São João Batista;
  13. Construção do Centro Escolar de  Lagoa de Fora, um antigo sonho seu;
  14. Campanha de distribuição de enxovais as mulheres grávidas;
  15. Campanha de distribuição de filtros;
  16. Iluminação na zona rural, sítio Macapá;
  17. Doação de terreno onde foi construído o presidio da cidade;
  18. Apoio a Banda  de Música "12 de Agosto", com manutenção de fardamento e instrumentos;
  19. Apoio ás práticas esportivas como torneios de futebol, maratonas;
  20. Convênio com o Hospital e Maternidade Maria Júlia Maranhão;
  21. Convênio com a Universidade Federal da Paraíba, nos cursos de Medicina e Odontologia, que enviavam seus estagiários á Araruna;
  22. Implantação do Transporte aos universitários de Araruna em outros municípios, sobretudo Guarabira;
  23. Construção de Posto Telefônico da antiga TELPA (Telefonia da Paraíba), no distrito de Riachão de Araruna;
  24. Calçamento em várias ruas no distrito de Riachão.

Wilma Maranhão, Celeste Torres, Ana Maria, em missa presidida pelo Monsenhor Joaquim.
Fotografia de julho de 1985. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva.
Prefeita Celeste Torres, entre outros Manoel Paulino, João Vasco, Almir Carneiro da Fonseca, Professor Raimundinho.
Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva.
Prefeita Celeste Torres em barraca representativa de Araruna, na feira dos municípios, em João Pessoa.
Década de 1980. Fonte: Ana Maria Queiroga. 

"ARARUNA - a rainha do feijão", representação do município na Feira dos Municípios na capital João Pessoa. Final da década de 1980. Fonte: Ana Maria Queiroga.
Prefeita Celeste Torres em comemoração de carnaval com jovens de Araruna,
 usando seu tradicional xale. Foto: Ana Maria Queiroga da Silva.
Wilma Maranhão, Glauce Burity (primeira dama do estado) e Celeste Torres, no clube 14 de Julho,
 em fevereiro de 1988. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva. 
Wilma Targino Maranhão, Marluce Fonseca e Celeste Torres em inauguração de
grupo escolar na zona rural. Fonte: Ana Maria Queiroga.
Campanha eleitoral de 1988, com o "Retorno de Wilma", entre os presentes Celeste Torres, Zé Bernardino, Zé Pereira e outros. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva. 
Maria Celeste Torres e Wilma Maranhão inaugurando instalação de posto telefônico no distrito de Riachão,
 presente  Gervásio Bezerra Maia, responsável pela TELPA - PB no período. Década de 1980. Fonte: Ana  Maria Queiroga.
Comício do PMDB durante as eleições de 1988. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva.

Abraço de Wilma e Celeste, durante comício nas eleições de 1988. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva.
Missa em comemoração a emancipação política de Araruna, entre outros, Dona Celeste, Wilma Maranhão,
Lourdinha Odon. Década de 1980. Fonte: Ana Maria Queiroga.
Prefeita Celeste Torres entregando título de Cidadão Ararunense ao Monsenhor Joaquim de Sousa Simões.
Década de 1980. Fonte: Ana Maria Queiroga.
Dona Celeste em frente sua residencia, entre outros Salva Dutra, Wilma Maranhão, Valdir Bezerra.
Foto: Ana Maria Queiroga.
Celeste Torres durante visita do governador interino Almir Carneiro da Fonseca, filho de Araruna, entre outros, Mentor Carneiro da Fonseca, Wilma Maranhão e Sebastião Antério. Década de 1980. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva.

Muitas foram as realizações da gestão de Dona Celeste, sendo a principal a construção da maior escola do município, o João Alves Torres, que possui a maior quantidade de alunos, tendo recebido grande apoio posterior na década de 1990, da gestão do prefeito Benjamin Maranhão Neto, e do governador José Maranhão, no que tange á expansão de sua infra-estrutura. 

Prefeita Celeste Torres distribuindo enxovais á gestantes do município, entre outros,
 sua nora  Ana Maria. Década de 1980. Fonte: Ana Maria Queiroga da Silva.

Campanha de distribuição de filtros. Década de 1980. Foto: Ana Maria Queiroga da Silva.

Porém, sem sombra de duvidas, onde a marca de Dona Celeste mais se faz presente é na área social, sendo considerada por muitos uma verdadeira "mãe da pobreza", pela dedicação com os mais humildes, sobretudo os da zona rural, aspecto de sua vida que não se deve associar somente por sua vida pública, mas por sua grande bondade, pois antes de se tornar vice-prefeita e prefeita, e após seus mandatos, Celeste nunca fechou as portas de sua casa para a população mais carente de Araruna. 

Além do filho Luis Januário Torres, que se candidatou a prefeitura local duas vezes, outros filhos de Dona Celeste se candidataram a cargos legislativos no município, como José Torres (2 mandatos), Maria de Fátima (1 mandato), Antonio Januário Torres da Silva "Toinho Jacinto" (1 mandato), além da nora Ana Maria Queiroga (1 mandato). Fora isto, Celeste Torres é tia do ex-deputado e atual prefeito de Guarabira Zenóbio Toscano, filho de sua irmã Maria do Carmo.

Dona Celeste gostava muito de se reunir com as amigas em sua casa, na Avenida Epitácio Pessoa, sobretudo durantes os jantares, onde conversavam sobre o cotidiano, possuiu uma quantidade incontável de afilhados, passavam dos 1 mil! Teve um final de vida, caseiro e discreto, mas sempre rodeado de pessoas amigas e dos mais carentes, á quem sempre teve destacada atenção.

Casamento de Fabiana, neta de Celeste, com Carlos, durante a década de 1980. Fonte: Carlos Suzuky
Faleceu na madrugada do dia 17 de julho de 1994, vítima de um infarto fulminante, mesmo dia em que a Seleção Brasileira de Futebol conquistava seu Tetra campeonato nos Estados Unidos. Durante as horas difíceis do infarto ainda se tentou socorrê-la, encaminhado-a para o hospital da cidade,  pedindo carona ao primeiro carro que aparecesse na rua, por ventura o do senhor Raul da Costa Câmara, porém sem êxito, Dona Celeste falece. Seu velório ainda é lembrado por muitos, como um grande acontecimento da cidade, mediante a enorme multidão que veio acompanhar, prestando assim as ultimas despedidas.

Maria Celeste Torres da Silva deixa como legado algo muito além das ações administrativas, mas uma bondade e uma solidariedade somente vistas em poucas pessoas, certamente incluída em bons momentos das memórias ararunenses, e nas saudades dos filhos, netos, genros, noras, e principalmente na lembrança dos mais necessitados, a quem nunca nunca se recusou em ajudar.

* Meu agradecimento ao filho de Dona Celeste Torres, Antônio Januário Torres da Silva, popular Toinho Jacinto pelas informações que transmitiu, e a sua esposa, Ana Maria Queiroga da Silva, pelo acervo fotográfico. 

WELLINGTON RAFAEL